sexta-feira, 26 de maio de 2017

Éff

Seu nome de nascimento é Fernando Caldas, mas nas redes ele é conhecido como Éff. Dono de quadrinhos um tanto críticos e inteligentes, o desafiador sergipano de 25 anos é além de quadrinista e ilustrador, artista plástico, designer gráfico, músico e desenvolve pesquisas independentes voltadas para a área dos quadrinhos. No ano de 2016 teve seu livro, intitulado "Éff" e recheado por suas produções que rolam pela internet, publicado pela editora Tribo.


Na entrevista que se segue, com muita autenticidade ele conta um pouco mais sobre seu processo criativo, suas intenções ao pensar, desenvolver e desenhar um quadrinho e sobre como lida com as críticas que são feitas ao seu trabalho.





Esquadrinando Quadrinhos: Na sua página do Facebook percebe-se que você não produz apenas quadrinhos. Também flertar com outros tipos de produções artísticas como a pintura de telas a óleo. Como você concilia esses interesses e como é seu desenvolvimento nesses outros formatos?

Éff: O meu foco com a produção artística é retratar a minha percepção do mundo de maneira que se encontre com a percepção das outras pessoas sobre o mundo delas. Acredito que trabalho com a linguagem e a forma de me expressar, isso vai além de uma técnica. A técnica pra mim foi vista como um apoio, uma maneira de executar as minhas ideias. Lineart, argumento, roteiro, pintura, poesia e música são áreas do meu interesse pessoal, sempre estive envolvido com todas elas e de certa forma consigo reunir meu conhecimento em todas essas áreas em algumas peças dos quadrinhos.



EQ: Muitos de seus quadrinhos contêm uma dura e ácida critica politica e social. Você acha importante a produção de quadrinhos exercer um papel combativo. Por quê?

Éff: O meu foco na produção dos quadrinhos não é o de trazer críticas políticas e sociais, é de falar como uma pessoa comum, como um brasileiro qualquer. Dentro disso eu esbarro nesses temas pelo fato do ser humano ser um animal político. Tudo que fazemos em sociedade envolve política e atos políticos. Acho importante que cada pessoa que desenvolve algum trabalho se posicione dentro dele de alguma forma sobre questões politicas, afinal, enquanto pessoas estamos nos comunicando de forma politica por atos muito simples. Então, por qual motivo não inserir isso na arte? Sobre a linguagem às vezes ser dura, vai mais do argumento que eu estou trabalhando em torno com meu desenho. Já fiz charges com tiradas cômicas, que não estão disponíveis na internet, mas prefiro retratar as coisas com um humor mais sério nesse trabalho.





EQ: O seu personagem principal, é muito parecido com você fisicamente. As reflexões e devaneios dele, também seriam os seus? Se sim, como você lida com uma exposição tão intima dos seus anseios e questionamentos?

Éff: Meu personagem principal não é só muito parecido comigo, ele sou eu. Meu apelido é Éff. Pra mim não existe exposição intima. Tudo que eu retrato são coisas que ao meu ver, as pessoas vão reagir de alguma forma, ou seja, não estão postas nos meus quadrinhos simplesmente por eu ter sentido algo. Meu trabalho é sobre mim, mas não é sobre enaltecer o meu ego e me vender enquanto pessoa, é sobre registrar uma cena minha que converse com o mundo. Faço questão de estar presente nos quadrinhos para que as pessoas saibam com que artista estão lidando. Os músicos têm que interpretar as músicas deles, mesmo quando usam alter-egos e outras representações para ajudar eles, os atores interpretam, os dançarinos também interpretam. Essa é a mesma linha de raciocínio que eu sigo aqui.



EQ: Para você, qual o valor real e palpável que o quadrinista tem na sociedade contemporânea?

Éff: Trabalho com a interação entre as pessoas, qual o valor dela hoje?


EQ: Como você lida com as criticas ao seu trabalho, uma vez que, os internautas são por vezes, no mínimo maldosos?

Éff: Eu gosto dos comentários maldosos. Eles revelam o primeiro impulso que muitas pessoas têm ao ver meu trabalho. Eles me ajudam a pensar que posso trabalhar a linguagem em alguma área que as pessoas não estão entendendos ,mesmo quando são ofensas e não críticas construtivas. Se alguém faz questão de vir me mandar uma mensagem falando algo ruim, com certeza, é por eu estrar trabalhando algo fora da bolha dessa pessoa, sendo assim, é algo que eu devia insistir em trabalhar. Lido com o público de maneira profissional e não pessoal.







EQ: Tendo uma produção de quadrinhos que em sua maioria são de cunho pessoal e tendo tanto acessos, afinal são mais de 190 mil curtidas no Facebook, você filtra aqueles pensamentos que vai desenhar ou apenas segue seu fluxo de pensamento?

Éff: Como não existe um dom divino, como as pessoas acham que alguns artistas têm, eu tenho que trabalhar as minhas ideias. Minha produção não é um diário, não a considero extremamente pessoal, um lugar onde eu sento e falo qualquer coisa que vem em minha mente. O que faço é encontrar maneiras de interagir com o mundo que possam conversar de maneira gráfica com maneiras que as outras pessoas têm de interagir com o mundo. Eu sou um autor de quadrinhos, tenho um livro publicado com as tirinhas dessa fanpage com alcance de mais de 190 mil pessoas e pesquisas na área de quadrinização, não faço posts aleatórios na internet.



EQ: Como se dá o seu processo criativo e produtivo?

Éff: A construção do argumento é sempre um processo complexo e o mais importante, então é o que me foco mais. Essa parte é a base de tudo. Depois que idealizo o roteiro, me dedico a forma que eu quero que o leitor encare a peça, então eu penso nos elementos que vou colocar pra que essa interação aconteça. Depois disso eu trabalho o lineart, para formar as linhas que formem o desenho, muitas vezes uso fotos de referência ou olho para cenários mesmo, após isso vem o processo de pintura digital. Depois de todas essas etapas, faço a correção gramatical.



EQ: O que significa fazer quadrinhos para você?

Éff: Nunca pensei em me limitar aos quadrinhos. Só encontrei neles uma forma que eu achava simples de retratar o mundo que queria que as pessoas vissem. Antes de fazer quadrinhos eu já era ilustrador e já fazia trabalhos em outros formatos. Isso me ajudou bastante a desenvolver essa arte, pois uma única peça de quadrinho pode ser construída de várias formas e sendo trabalhados vários elementos diferentes.


Para encontrar o Éff basta visitar a página dele no Facebook clicando aqui. O artista também está presente no Instagram e no Tumblr.

Mariana Carneiro.

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